Não posso mentir e dizer que me surpreendo quando te encontro na soleira da minha porta…ou que me inunda de surpresa o momento em que afastas o lençol, a meio da noite, para me receber…quando juntos não adormecemos.
Confesso que me habituei a ter-te por perto, a ter-te receptível a mim…a saber que encaixamos perfeitamente…quer na táctica teórica ou prática…quando os meus braços de agarram, ou quando o teu corpo o meu suporta…sei que sabes e sentes o mesmo.
Sentes-te amada?
“Amo-te”, disseste tu naquele suave, ressoar…entre dentes..sob guarda atenta do teu livro. “Amo-te”…Um simples som que dizes uma vezes por entre outra, sem conexão ou desencadeante aparente : “Amo-te”.
Não afastei, nem tentei afastar, o teu amo-te, ou afastar-te…não mais o farei…é uma palavra…não a dizes muitos, há que tentar compreender .
“Amas-me?” perguntei aproximando-me de ti…para que o calor dos nossos corpos, mais do que familiar e acolhedor, fosse comburente para as palavras que queria que me fossem explicadas…fosse um calmante, um mero placebo.
“Sim”, respondendo passando a mão em redor da minha cintura…procurando as minhas mãos, apertando os meus dedos com os teus.
“Explica-me o que sentes…para dizeres que me amas” pedi-te eu “ O que é o amor? Como sabes que me amas?”
Encolheste os ombros, achando…provavelmente, que a pergunta era idiota.
“Amo-te porque não me imagino sem ti…Nunca…Quando algo menos bom acontece, é a ti que recorro…Quando algo bom acontece, é contigo que quero partilhar. Quando algo, de qualquer espécie, acontece…é contigo que estou.”
“E mais?”
“Á noite, quando o sonho ma não me deixa voltar a adormecer, é a ti que quero acordar, só para ouvir uma confirmação de que tudo está bem!”
Olhaste para mim e continuaste.
“ Sei que te amo porque quando sinto frio…penso em ti e sei que poderia ficar melhor..Quando está calor penso em ti! Nas noites em que não te tenho, não tenho sonos calmos…Nas noites em que te tenho, não tenho insónias, tenho períodos de tempo reservados para te ver dormir…e gosto desses momentos…”
“Continua…” insisti eu, vendo que algo continuava por dizer.
“ Sei que é amor pois, nos meus pensamentos…os meus filhos têm covinha no queixo, sorriso parvo e cabelo rebelde…como tu. Sei que te amo pois deixaria tudo por ti! Sei que te amo porque sei ver que também me amas, apesar de não definires o amor…”
“ Isso é amor?”
“ Se não é…” disseste e, estranhamente, voltaste a pegar no teu livro. “ Se não é…peca, no mínimo!, por excesso…”
“ Que queres dizer com isso?” perguntei, tentando sobrepor-me ao poder que o livro tem sobre os teus momentos de “medo”.
“ Por muito forte que o amor seja…não é mais forte do que esta coisa que sinto por ti.”
Viraste a pagina, dando a conversa por encerrada…Eu encostei-me mais, apreciando o calor que é teu .
Sentes-te amada?