sábado, março 03, 2007

Destinos...

Momentos há na vida em que pensamos ter tudo sob controle. Está tudo nas nossas mãos. Pois bem, para quem tem os dias equilibrados por rotinas, para quem pensa mil e uma vezes antes de agir, para quem calca cuidadosamente o chão onde pisa, para quem nunca é sobressaltado por precipitações ou actos inusitados, cá vai a bomba...
A VIDA É AREGRADA.
Não adianta. Não vale a pena. Somos levados pura e simplesmente por algo que nos marca e segue: o destino.
Acredito que há um destino para cada uma das vidas que surge todos os dias. Caso contrário porque razão não fui naquele autocarro,(depois de ter esperado horas por ele e, por ter adormecido, não ocupei o meu lugar), que uns kms mais à frente se despistou e foi por uma ribanceira abaixo, ferindo alguns ocupantes??!!
Então e aquela vez que me cruzei na rua contigo, naquela tarde de véspera de Natal, nós os dois atulhados de sacos, e nos olhámos, primeiro seriamente, depois mais descontraidamente para logo a seguir nos “agarrarmos” a uma vida que deixou de ser só tua ou minha, passando inevitavelmente a ser nossa??!
O fado, destino, caminho traçado que todos temos pode, no entanto, ser contornado algumas vezes... Porém, são apenas curvas maldosas, enganadoras, porque o percurso é sempre o mesmo e possui igualmente o mesmo fim...
Somos nós quem constrói o nosso futuro?? Não acredito. Não tivemos interferência no nosso passado mais antigo, temos implicações nas acções do dia a dia do presente embora o façamos de forma quase transparente e indelével. Mas, relativamente ao futuro, é o “esperar e ver”. Escolhemos uma carreira pensando que é o que nos realiza hoje, amanhã não sabemos. Encontramos alguém que nos preenche e completa hoje, amanhã não fazemos a mínima ideia se nos sentiremos vazios novamente.
Decidimos aquilo que entendemos de “melhor” para os nossos... pensamos, estudamos, vemos e analisamos e chegamos a conclusões óbvias, logo viáveis. Pois, mas o que é evidente e claro hoje, amanhã poderá ser subjectivo e obsoleto...
Portanto, só uma coisa a fazer: viver cada minuto, cada segundo, cada inspiração de ar como se fosse a nossa última oportunidade de nos olharmos ao espelho. Viver sem pensar demasiado. Viver de precipitações e impulsos. Aproveitar cada uma das pessoas que nos amam, amá-las e deixar que elas nos amem. Aprender todos dias algo de novo e, no fim do dia, partilhá-lo com alguém porque não sabemos se amanhã cá estaremos para o fazer. Dividir sorrisos, lágrimas, forças e fragilidades sem medo de sermos catalogados.
Viver é tão difícl. Não é só respirar.
Partilho um poema de Alberto Caeiro. Penso que ele seria feliz. Creio que a sua capacidade para não pensar, o tornou num ser mais perto da Natureza, em comunhão perfeita com ela...

“Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar... “

domingo, fevereiro 25, 2007

O meu espaço especial


Inspirado pela música fiquei a pensar no meu “espaço especial”, mais correctamente, o Nosso espaço especial.
Se observar o local diria que é um pouco primitivo, nada, mesmo nada romântico…mas foi ali que, mesmo teatralmente, tudo começou.
A privacidade era inexistente, o ambiente era péssimo ( e Tu sabes), a ocasião era muito aborrecida…estávamos a trabalhar, mal nos conhecíamos…
Quantas vezes depois daquele dia chuvoso lá passei simplesmente para observar.
Passados mais de três anos ainda consigo abstrair-me de tudo e projectar naquela parede o que passamos, como se de um filme se tratasse, consigo visualizar a cor do teu blusão, consigo distinguir os aromas do teu perfume, consigo, facilmente, ouvir o que me disseste, como um sussurro, é certo, mas oiço…
Lembro-me também muito bem que naquele momento não significou muito para mim, é verdade, não conseguimos perceber naquele momento que aquela encenação “privada” ia fazer com que tantas emoções fluíssem.
Mesmo assim, acho que se pudesse recuar no tempo não tinha mudado o local, não tinha pedido um dia de sol, um espaço mais intimo…queria tudo igual.
Quando falamos daquele dia não referimos o que aconteceu depois, não falamos das portas que bateram, dos gritos que se ouviram…só falamos daquela pequena esquina, daquela rua escura, do bairro perigoso, e, claro, do que entre nós se passou…Falamos disso porque é o que importa, como se costuma dizer, gravamos o que mau se passa na areia e o melhor em pedra…Tu estás cravada no meu coração…que não é de pedra porque te conheci….e se de cada vez que penso em ti, em nós me caísse um pedaço…neste momento eu não existia. O resto é história…é privado...mais importante ainda, Tu sabes.