sexta-feira, março 14, 2008

I've got You...

“Que foi?”…”Nada”, diz continuando o movimento ao longo das feições…Um dedo, depois outro…respira respira, controlo e ponderação…um dedo depois outro..inspira e expira… “Que foi??” pergunta exasperada “ Que foi” repete com menos calma.
“ Nada..”..um dedo depois outro…calma e ponderação…um dedo…queixo e suspiro…um dedo..
“Estás a desconcentrar-me!” diz… “eu sei..” pensa ele, mas não diz. Calma e preponderância, isto é um jogo…o objectivo é definido por ele, só por ele…um dedo, outro dedo..pára! Parou..e fica parado…
Sorri, ele percebe, ele sabe e sente…a caneta que ela agarra parou, finalmente, de riscar o papel pautado…sorri, ele sabe…ele sabe tudo e sabe que sabe tudo!
“ Estás a tentar provocar-me?” pergunta largando a caneta… “ Está a resultar?” pergunta…a mão dela voa para ele mas é evitada…sobrolho erguido…não entende! Mas ele entende…ele entende tudo…percebe tudo e sabe que percebe…
Sem barulho afasta a cadeira…com um dedo toca no queixo da mulher…um dedo, depois outro…e pára…gira e bate com o é direito…destroçar!
Avança…sem olhar para trás..pelo corredor que os levaria muito longe…pensa no plural mesmo sem olhar…não precisa de confirmar que ela o vai seguir…
Ele sabe…ele sabe e percebe tudo…e sabe que sabe tudo!

quinta-feira, março 13, 2008

Angel


Num fundo negro algo brilha…lá ao fundo, no intocável espaço entre o sonho e a realidade…
“Acorda…” pede a voz que personifica o brilho, “tens que acordar..” cada vez mais perto, cada vez mais palpável..Sente o suave aroma almiscarado, inconfundível, cada vez mais próximo… “ Tens que acordar..acorda!”… “ Deixa-me tocar…” diz esticando a mão que não domina, que sente presa entre o embrenhado sedoso dos lençóis… “ Acorda, tens que acordar!” repete a voz feminina que é a luz… “ Por fav..” a voz dele trava-se tão facilmente como se solta…o cheiro, o inconfundível cheiro almiscarado, que tão insistentemente decidia usar…algo másculo na meninez… “Acorda..tens que acordar!” a voz soa doce, dura e doce no terrível paradoxo que nunca foi mas sempre deixou transparecer, o másculo na meninez, a seriedade na doçura… “ deixa-me tocar!” tenta ele…
A mão prende “ deixa-me tocar!” o salgado líquido invade-lhe os lábios “ Por fav…” a voz grave travada, desta pelas lágrimas, não deixa exprimir o inexprimível… “Tens que acordar…acorda!”…repete ela… “ Deixa-me tocar…” suplica… “Uma última vez…por fav..”.
O cheiro cada vez mais próximo, cada vez mais forte como se mais perto estivesse…e estava… “ Tens que acordar”…a mão estende-se, deixando-se controlar…toca algo suave, uma gola perfeitamente vincada… “Acorda agora..” diz ela deixando a sua pela roçar na dele…”tens que acordar!”…os lábios tocam-se, levemente, “Tens que acordar..acorda!”…
Sôfrego prende a aba na sua mão “ Volta…volta e eu acordo!”…pede… “Tens que acordar..faz mal não acordar..”diz firmemente a voz feminina “Acorda…agora!”
A luz ténue do sol matinal entra pelo rasgo da persiana…claro, mas não tão claro…incomoda…leva a mão à face, roçando o punho no nariz…sorri “ Almiscarado…ainda estás comigo!”

quarta-feira, março 12, 2008

Take my breath away!


Gira sobre um pé...Recua…Avança, finge…Recua, avança…estica..recua..Foge!
“Não te metas comigo…”..ataca..finge, recua..ameaça! “ Não te metas comigo.”…dança e representa..ataca..forte..ataque..Fraco! “ Não te metas comigo!”
“Eu não me meto contigo..” cai…não te levantes..não te levantes!
“ Eu disse para não me provocares..” diz ela enquanto pressiona o peito, imobilizando-o “ Disse ou não disse?”
“Disseste…disseste!” diz rindo.. .“Desculpa...desculpa!”
Mão esticada…não agarres! Não agarres! “ Agarra...” diz ela… “Agarra-me e não me provoques..”
“Agarro...ah agarro!”…peito pressionado..abusou abusou…Menino mau..menino mau! “ Não te metas comigo já disse!” …diz que não, diz que não tonto! Não te rias…idiota!
“ Pára de te rir..não me provoques, já disse!” diz ela enquanto lhe sente a largura do pescoço.
“ Tiras-me o ar…tiras tiras…adoro adoro!”…girou! Esperto..muito esperto… “Tiras-me o ar…tiras tiras…quem manda agora?”

domingo, março 09, 2008

Kiss Me


Ouviram-se os sons da noite, as portas a bater…os pés pisaram a gravilha há muito solta..
O ar frio roçou-me o pescoço e, rapidamente, o cobri com a gola do casaco escuro, encostei-me ao carro.. agradecendo à sorte por não fumar, com a carga de nervos que tinha no corpo teria sido um suicídio…fumar a quantidade necessária para me “acalmar”. Chutei uma pedrinha, chutei outra e outra…olhei para o relógio…ainda é cedo, pensei.
Perscrutei o bolso interior do casaco, tomei o peso ao pequeno embrulho sorrindo à minha falta de imaginação..Mais uma vez olhei para o relógio…está na hora!
Desencostei-me, prontamente, do carro, sacudindo o pó do cotovelo direito…olhei para o fundo da rua, um pequeno grupo de miúdos começava a excursão aos bares..o meu seria o seguinte, pensei.
Distraído com os meus pensamentos não dei conta da chegada do pequeno carro…
“ Mike?..Mike?”
Olhei na direcção da voz e vi-a…fiquei parado por um momento, admirando a pessoa que se deparava à minha frente..lembro-me de pensar que era um sortudo…lembro-me de achar que a luz brilhava de uma forma muito mais bonita naquela noite…naquele segundo que me pareceram anos, perdi os sentidos milhentas vezes, vi e revi a bela figura que permanecia parada à minha frente..
“Mike..Mike?”
Ouvi o som que os meus pés fizeram a pisar a gravilha mesmo antes de saber que me estava a mexer…estendi os braços e rodeei-lhe os ombros puxando-a mais para mim.
“ Sim..”
Procurei apoio no carro escuro..e ele não mo negou, segurando estoicamente a estrutura bamba que era o meu corpo …ela não pareceu notar, se notou não o disse.
As mãos descobriam o que os lábios ainda não tinham investigado…mas o tempo deles chegaria. Rapidamente o frio se tornou num calor suportável…momentaneamente suportável.
O pequeno grupo de miúdos ao longe não distinguiam em nós mais que um ser…nem que o quisessem…lembro-me de pensar enquanto brincava com um fecho de casaco…de qual casaco? Não sei…não perdi tempo a descobrir.
Na tomada de fôlego, extremamente necessária, lembro-me dos sorrisos…lembro-me da sensação das cinturas unidas como que fisicamente…levantei uma mão e mais uma vez explorei o bolso do casaco, retirando o pequeno embrulho…
“ Mandei apertar…” disse enquanto lhe rodeava o pulso..
Depois?...como dizia o outro “ Há sempre forma de melhorar o excelente…”