sábado, outubro 21, 2006

Guia do engate

Guia do engate

Antes de sair de casa….

Repetir para o espelho repetidas vezes coisas como…

- Princesa!
- Mas eu preciso de ti!
- Fazes me falta….
- Nunca me aconteceu isto… Estou sempre a pensar em ti
- Quero estar contigo…
- Confia em mim

( Por exemplo)

O banho da praxe… Desfazer a barba ( quem for homem para a ter)… Perfume, não se esqueçam de levar roupa engomada…

Quando chegam ao restaurante, olhem para o relógio ( se chegarem antes) constantemente, olhem para a porta com o olhar ansioso, passem a mão pelo cabelo ( pareçam ansiosos, senhores!)

Quando ela chegar
Levantem-se rápito… hum… tipo quando é golo do Benfica. Atenção!!
Não mandem… Repito… Não mandem a cadeira ao chão.

Cumprimentem com um beijo… só um… Na cara ( se não for intima, não se armem em parvos)

Repitam, tipo 5 vezes, que estavam ansiosos, não repitam as cinco seguidas… Sorriam, passem as mãos na calças, têm de estar nervosos!

Se alguma coisa correr mal, ou não como esperavam…

Por exemplo:

- A menina não quer nada com vocês, ou pelo menos quer dar a Entender…

Repitam o que treinaram ao espelho, efusivamente…

Mas EU!! Gosto de ti… Eu preciso de ti… Não me deixes! Por favor… Compreende a minha situação, em “abri-me” para ti… És tão linda, eu adoro-te tanto… Quero estar contigo…

Resulta ( quase) sempre…

Lembrem-se… Elas gostam dos maus…



PS: Não concordo com nada do que escrevi atrás, mas é o que está a dar… Temos pena….

Quando te apaixonas voas sem asas??? Será?

Ora boas…

Primeiro ( estou a ser repetitivo) estou, como dizer?, de mau humor?
Acho que sim.

Ouvi uma coisa um destes dias, era mais ou menos assim….

“ Quando te apaixonas voas sem asas” ( por acaso é uma musica)

Pois bem…. Querem a versão cínica ou a real da minha resposta?

Se escolheu a opção cínica ( lol)

Realmente, sentimos aquela leveza. Aquele calor na barriga, as borboletas na barriga, sonhamos com essa pessoa quando não estamos a pensar nela, ou com ela. Fazemos planos, pensamos na casa, no carro, no cão, nos filhos… Pensamos, basicamente, no amanhã.
Voamos sem asas, sem condicionamentos, somos livres, queremos o que temos, não pensamos no que pode correr mal, pensamos no que pode, e vai, correr bem…. Ai é tão bom é tão…
Amo-a tanto… Quero voar ao lado dela para sempre… Quero ter filhos com ela… ahhhh….


Se escolheu a opção real

Olha lá! Estás parva? Andaste a snifar cola às escondidas?
Não vês que se não tiveres asas cais… partes-te toda!

( A pessoa em questão diria) Mas… mas, eu amo-o tanto!

Pois… ( batendo na cabeça) Está aí alguém?? Hellooooo! Wake up!
Vais cair, pensa nisso, quando não se pensa caísse, isto não é um filme, não vão aparecer as borboletas no final… Percebes? Olha o que eu te digo… Deixa-te disso…

( a pessoa, depois de largo suspiro) Nestas coisas não se pensam… E… porque estás assim? Quem se magoa sou eu… Eu… eu… eu acho, quer dizer, eu quero-o!

Conclusão- Nem a pessoa está convencida… Não se ama sem asas, que são como os alicerces… Sem alicerces a casa cai e parte-se toda… Pensem nisso…


LR

quarta-feira, outubro 18, 2006

Vem sentar-te comigo Lídia

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e nao estamos de maos enlaçadas.
(Enlacemos as maos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e nao fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as maos, porque nao vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixoes que levantam a voz,
Nem invejas que dao movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagaos inocentes da decadencia.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as maos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Ricardo Reis \ Fernando Pessoa


( Ideia de Filipa... obrigado camarada)