sexta-feira, junho 08, 2007

Porquê?

_ Porque é que é de noite?



_ Porque é a vez das estrelas entrarem pela tua janela...



_ Porquê?



_ Porque o sol cansou-se e é a altura certa para a lua brilhar...



_ Porquê?



_ Porque é a lua que tem o poder de adormecer as pessoas e os animais...



_ Porquê?



_ Porque a sua luz tem muita força e obriga-nos a fechar os olhos...



_ Porquê?



_ Porque os nossos olhos estiveram abertos o dia todo, atentos a tudo e todos e agora querem dormir...



_ Porquê?



_ Porque amanhã é outro dia e, se os olhos não estiverem despertos, há muita coisa que não vão ver...



_ Porquê?



_ Porque todos os dias aparece algo novo...



_ Porquê?



_ Porque todos os dias são diferentes...



_ Porquê?



_ Porque sim...



_ Isso não é resposta...



_ E isso não serão “porquês” a mais?



_ Porquê?



_ Hora de dormir. Amanhã explico-te o porquê de ser dia...

quarta-feira, junho 06, 2007

E uma música...

Simples, para ti...

http://www.youtube.com/watch?v=USFr5VeLQ2o

O meu cão e eu!


Sempre gostei de ler biografias e livros de histórias reais. As fantasias e contos imaginários estão na minha cabeça e já os considero demasiados. Não sei porquê mas tenho curiosidade em saber como foi ou é a vida das pessoas, viajando pelo livro, como foram ou são experiências vividas e gosto de bisbilhotar (não me parece muito bonito) pormenores na esperança de encontrar esta ou aquela semelhança, este ou aquele ponto em comum com a minha própria vida!

Acabei agora de ler um livro desses e decidi escrever sobre o assunto. Marley e Eu é o título. Faço questão de um dia o oferecer a alguém.
Houve uma altura em que pensei que era impossível chorar ao ler um livro. Ao ouvir uma determinada música, ao ver um filme, tudo bem, mas a ler um livro?? Mas de facto, há livros que possuem uma vertente cinematográfica muito grande, que ilustram na perfeição personagens e acontecimentos e nos levam para dentro dele. Ultimamente acontece-me chorar ao ler algumas histórias. Penso que acontece por duas razões: primeiro porque são narradas situações que sei que aconteceram e logo o sofrimento, a alegria, o entusiasmo, a dor existiram num tempo e espaço realmente vivido. Segundo porque são bem escritas e as palavras são claras e combinam na perfeição com os meus ideias de vida. Confuso??
Este livro alia dois factores importantes: uma família, normalíssima não fosse a entrada, sui generis, de um... cão. Não é um cão qualquer. É um cão fotocópia do meu. Aquele que vive feliz da vida na casa dos meus pais. Vi-o nascer e acompanhei cada fase do seu crescimento. A cada instante descobria-lhe uma “pancada” nova. Definitivamente fui constantemente enganada por ele. Gritava-lhe, ele lambia-me. Batia-lhe com o jornal, ele gania. Ignorava-o, ele saltava-me para o colo sabendo que era mesmo impossível não o sentir. Tal como o Marley, o meu cão tem uma personalidade forte, é inteligente e meigo e só aprende o que lhe convém... mais importante: quando lhe convém!!
A cada capítulo do livro revi-me no desespero do dono mas igualmente na capacidade de amar um animal sem regras, doido varrido, bem como na entrega a uma amizade incondicional, a uma protecção simultânea e à dor dos castigos (des)necessários.

Tanto ele como eu adorávamos a barragem perto de casa. Ao fim de semana, enfiava-o, literalmente, no carro e íamos para lá, os dois... durante a viagem fazia-me a limpeza aos ouvidos, gania e ladrava a todas as alminhas que passavam por nós. Nem os biscoitos que comprei, para o manter mais ou menos quieto, funcionavam. Devorava-os e estava pronto para a brincadeira num instante...
Quando chegávamos, prendia-o e era arrastada para um lado qualquer. Lindo de se ver. Com frequência ouvia comentários destes: “Mas, afinal, quem passeia quem???”. Sorria e dizia sempre que o meu cão era doido e não tinha emenda.
Fugiamos sempre das multidões. Tinha um cão muito dado a contactos físicos, portanto, era bem mais seguro irmos para um lado da barragem mais isolado e calmo. Aí soltava-o e deixava-o snifar incessantemente flores, ervas, árvores, pedras e tudo o que mais houvesse por ali... Normalmente nunca saía de perto de mim. Eu ficava sentada perto da água a observar os seus movimentos. Nesse dia, não sei se por distracção minha ou por excesso de olfacto dele, fugiu... Rapidamente encetei numa corrida, tresloucada, chamando o seu nome vezes sem conta... nem vê-lo...
Passados longos, pelo menos a mim pareceram-me ser, minutos e já perto de um local próprio para piqueniques e afins, vejo o meu cão a correr velozmente na minha direcção. “Ahhh, estás aí. Olha o que eu encontrei!!??” parecia dizer... na sua boca, nada mais nada menos, do que um naco de carne, enorme, crú... incrédula, vejo um senhor atrás dele praguejando coisas menos bonitas a seu respeito. Por segundos desejei que o meu cão passasse por mim e não me conhecesse.
Ele sabia o que eu estava a pensar e, por isso mesmo, fez exactamente o contrário. Parou, deixou cair a carne, saltou-me para cima, lambeu-me a cara, pegou novamente na carne, sentou-se aos meus pés e começou a comer o produto do seu roubo. Não tinha como fugir. O cão era meu!!
Desculpei-me da melhor forma que consegui, sugeri até ir comprar carne mas o senhor, vermelho de raiva, só dizia que tinha toda a gente à espera das febras. Nada feito. Metade das febras já tinham ido à vida...

Este livro, teve este efeito em mim: não me senti tão sozinha na angústia de querer educar um cão e não conseguir. Era mais forte do que ele. E sempre acreditei que há instintos que não podem e, talvez até, não devam ser aniquilados. O meu cão é mal educado, maluco, irrequieto, enérgico, bruto e desobediente. Mas se ele não fosse assim, eu também não teria história nenhuma para contar... e as nossas vidas são tão mais ricas e felizes se tivermos alguma coisa a dizer...