quarta-feira, agosto 08, 2007


A noite foi praticamente passada com os olhos abertos.
Por mais voltas que desse na cama não conseguia deixar de pensar nele. A sua voz, as suas palavras ecoavam na cabeça e a proximidade do dia desejado deixava-a sem chão e ansiosa.


O dia finalmente clareou. Levantou-se e, depois de fazer todos os seus rituais matinais sempre de cabeça no ar, tomou um banho de longos minutos. Olhou para o seu corpo. E pensou como ele o veria e sentiria...
Saíu de casa, entrou no carro e fez um esforço para se concentrar quer na condução quer no percurso. Poucas horas os separavam. Um momento há muito esperado mas, por uma ou por outra razão, sempre adiado.
Chegou, estacionou o carro e dirigiu-se ao local combinado. Veio mais cedo propositadamente. Sentia que precisava de se preparar. O quarto não era grande mas já o sabia de cor... e jamais esqueceria cada pormenor. Desde as cortinas até à cor dos tapetes.


Olhou para o relógio mais uma vez e o seu coração bateu desenfreadamente. Viu-se ao espelho. Ajeitou o cabelo e a camisa pela milésima vez e optou por esperar sentada... pacientemente.


Sabia muito sobre ele, conhecia-lhe até alguns segredos e naqueles meses tinham partilhado todas as suas vidas em palavras: ditas e escritas. Apercebeu-se que nunca na vida tinha esperado por alguém daquela forma. Sentia-o tão perto e antagonicamente tão longe... desejava-o sem nunca o ter olhado nos olhos. Queria que fosse tudo perfeito. Queria ser ela sem pensar em constrangimentos porque ele, inconscientemente, a libertava e permitia que a sua alma, as suas fantasias ganhassem nova vida. Tinha esse poder!


Olhou uma vez mais para o relógio e os seus olhos pousaram nas suas mãos. Hoje estariam preenchidas com o corpo dele, com o seu cheiro, com o seu calor... quantas vezes quis que aquelas mãos fossem as dele!
Levantou-se. Sentiu os passos de alguém no corredor e o seu coração endoideceu. Ficou parada ouvindo atentamente. Tornaram-me mais próximos e mais próximos e por fim pararam. E a sua respiração adormeceu.


Alguém bate. Ela hesita. Caminha lentamente sabendo que aquelas eram, naturalmente, as horas de ambos. Apeteceu-lhe abrir a porta de olhos fechados, talvez uma forma de “temperar” o momento: primeiro a voz, depois o toque e depois, aliado a isso tudo, a imagem real dele. Mas não o fez. A mão abre a porta e o corpo recua para o deixar entrar... O seu corpo treme e as mãos não encontram posição...


Ele aparenta mais calma e tranquilidade. Aproxima-se dela, ou ela dele, não interessa. Na penumbra daquele quarto ficam frente a frente pela primeira vez. Ouvem-se as respirações de corpos imóveis que se sentem uma única vez no mesmo espaço. As mãos dela vão ao encontro da sua face. Os dedos percorrem os olhos, o nariz, os lábios e desenham as suas formas suavemente... depois tocam no cabelo e pousam no pescoço. O perfume que emana dele anestesia-lhe os sentidos e a respiração cola-se à sua... As mãos dele seguem o mesmo ritual.


São apenas segundos mas prolongados no tempo. Este parou. Cúmplice.


Os lábios tocam-se. Um beijo a medo, típico da adolescência, e quase roubado! Mas... o beijo perde a vergonha e os lábios colam-se e perdem-se apaixonadamente. Ela cabe perfeitamente nos seus braços. Sente-se protegida e feliz. Ele aperta-a contra si. E não proferem palavra. Tornaram-se inúteis e completamente desnecessárias.
A casualidade uniu-os, a oportunidade foi aproveitada e o destino cumpriu-se. Ali vive-se um amor que muitos não entenderão. Sabem-no mas entendem-no eles. É o suficiente. Aquele é o momento. Naquele quarto, naquele dia, naquela cidade, àquela hora...


... e por fim... amam-se!