segunda-feira, dezembro 04, 2006

Quero

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao dizer: Eu te amo,
dementes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amaste antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amo amo amo amo amo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.


Carlos Drummond de Andrade

1 comentário:

Anónimo disse...

Hoje acordei e senti-me... terrivelmente... só.
Sozinha num silêncio que só eu entendo, talvez porque os silêncios são pessoais e escondem-se atrás das palavras!
Pensei em chamar-te.
Pensei em quebrar este som sem som que se instalou na nossa cama.
Pensei em puxar-te para mim e dizer-te baixinho que me apetecia falar sobre qualquer coisa que ainda nos una.
Pensei em pensar em nós.
Pensei na primeira manhã de uma noite em claro, incomodada com os meus movimentos, cautelosos demais para não te acordarem.
Pensei nos teus olhos frios de luz, na tua boca seca de palavras, no teu cabelo com um odor que já não mais conheço.
Pensei na minha voz e na tua voz e nos caminhos onde já não se cruzam.
Tu estavas lá. Aninhado nos teus sonhos, dos quais não faço parte (alguma vez fiz?), enrolado num lençol desarrumado... como a nossa vida.
Olhei para ti na esperança de encontrar uma razão que me prendesse ao teu corpo e ao teu cheiro.
Toquei-te suavemente no ombro esperando encontrar o calor do teu abraço dos dias mais difíceis.
Sussurrei o teu nome e pacientemente aguardei uma palavra...
Então, o quarto, o nosso quarto, tornou-se demasiado pequeno e eu demasiado grande para caber nele.
Levantei-me e saí sabendo que o meu lugar na cama deixára de existir. Como eu. Como nós. Como a nossa vida.
No espelho, apenas uma prova da minha existência: um papel amarelo no qual escrevinhei: “Perdi-me e tu não me vais encontrar!!”.