sábado, dezembro 22, 2007

Aquela fria tarde de Março

No dia em que chegou da guerra ouviam-se gritos de alegria, viam-se lágrimas de felicidade.
Pais, namoradas, filhos e filhas, noivas e mulheres corriam para os soldados regressados. Soldados, recentemente pais, apertavam contra o peito os filhos que ainda não tinham visto crescer.
No dia em que ele chegou da guerra ninguém o tomou contra o peito.
A ninguém disse quando a sua comissão terminaria, ninguém perguntou, ninguém procurou saber.
Olhando em redor percebeu que era o único nessa situação.
Ajeitou a sua boina vermelha púrpura milimetricamente, passando os dedos pelas fitas negras, passou as mãos na farda e colocou o saco esverdeado ao ombro…Sem olhar para trás, fugindo a alguns cumprimentos de camaradas, caminhou até à estação mais próxima.
“ Somos jovens e audazes, palmilhando metas sem fim…mostrando ser capazes de lutar até ao fim!”
O jovem de cabelo muito rente, com a barba perfeitamente desfeita, parecia chamar à atenção da multidão que circundava o cais de partida….tal atenção não era apreciada.
Sentou-se num banco, afastado o mais possível da multidão, e curvou-se sobre si mesmo, dando a entender sono no que era tristeza.
“ Aprendemos a ser duros, a lutar até morrer…e mostramos ser seguros, não faltando ao dever”
O comboio partiu e chegou ao seu destino, ninguém o esperava nesse local…não ficou surpreendido.
Caminhou até casa, cortando a corrente de ar fria com passos longos e decididos.
“ Ao perigo indiferentes, e na guerra destemidos…Nunca largamos as frentes, perseguindo o inimigo!”
Chegado a casa apanhou algumas das cartas que se encontravam na mesinha da sala…não as leu. Tirou a roupa do saco e separou-a metodicamente, orgulhosamente. Fez a sua cama de lavado e de seguida nela se deitou…
Passaram-se dois dias até que alguém soubesse que ele havia chegado. Naqueles dois dias pouco dormiu, pouco comeu, muito pensou…Naqueles dois dias soube que nunca mais seria o mesmo.
Não sabia, esse jovem homem, que passado quase oito anos escreveria sobre essa fria tarde de Março…Não sabia que estaria casado e com dois filhos…Sabia, no entanto, que a velha mágoa voltaria à tona, que o nó na garganta tornar-se-ia impossível de ultrapassar.
Nunca mais se esquecerá, esse jovem que se tornou homem, que, nessa fria tarde de Março ninguém o tomou contra o peito…
Não me esquecerei que fui eu que assim quis…
“ Esta é a voz do comando, que de regresso cantamos e bem alto vamos gritando…


MAMA SUMAE, aqui estamos!

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