domingo, setembro 30, 2007

Ela seguia-o…

Inconsciente, torpe e quase levitando… caminham calmamente por entra a multidão mas a ela, parece-lhe, que vão quase a correr. Ele prende-lhe mais a mão e lança olhares por cima do ombro talvez com o intuito de se certificar que é a mão dela que segura firmemente…
O percurso não foi em nada planeado, surge naturalmente, e os corredores cresceram e multiplicaram-se estupidamente… Impunha-se sair dali. Era fundamental estarem apenas os dois. Ninguém falava, nem sequer era preciso. Ele tomava as rédeas e ela concordava com as atitudes… Uma comunicação perfeita e bilateral mas, ao contrário do normal, apenas feita e pensada com o corpo…

A noite já ia alta e apenas umas luzes aqui e ali iluminavam o caminho que o carro dele, velozmente, percorria. Não sabiam para onde estavam a dirigir-se. O caminho era totalmente desconhecido mas o que realmente era importante é que estavam juntos novamente. Respiravam o mesmo ar e podiam olhar-se sempre que quisessem… Ele conduzia concentrado. Ela colocou a mão dela na perna dele para não perder o sentido da realidade. Desta vez, recusava-se veementemente a sonhar. Queria a terra, queria o chão, queria a objectividade, queria algo físico e material… por um momento que fosse exigiria a verdade, os factos em detrimento das suas ficções, da sua imaginação, dos seus sentidos! Aquele indelével e mero toque de perna certificava tudo isto…

A estrada estava deserta e as luzes deixavam ver apenas alguns buracos e defeitos do percurso que faziam… sinuosas curvas e um deserto de casas. O céu estava pintalgado de estrelas. Ela olha pela janela e observa-as. Para ela são velas acesas… muitas…

Pensou que talvez aquela fosse a altura ideal para falar qualquer coisa que fosse e colocar algumas interrogações mas vendo-o tão calado e sério, optou apenas pela quietude das palavras e pensamentos. Não o queria perturbar mas era um facto que a sua curiosidade começava a alcançar o limite máximo. O que fazia ele ali naquele dia? Teria sido a primeira vez? Como a encontrou? Procurava o mesmo que ela procurou naquela loja? O que tinha feito durante todo o tempo que não se viram, ouviram e sentiram? Continuava só? Será que ele a vê como ela o vê em quase tudo que a circunda? Sente a falta do seu corpo, da sua voz, do seu sorriso? Tinha a certeza que qualquer coisa que dissesse naquele momento iria parecer inevitavelmente disparate e despropositado. Tentou desviar a sua atenção e os seus olhos fixaram-se nas mãos que seguravam masculamente o volante. Grandes e finas. Suaves sabia. As mãos que conheciam o seu corpo, aquelas que percorreram como não outras cada pedaço do mesmo… Estavam ali, paradas. Ao alcance das dela.

Subitamente ele pára o carro. E pára num pedaço de terra, no meio do nada…

O que se passa a seguir é pautado pela impulsividade, pelo desejo, pela ansiedade e pelo ímpeto de corpos que se reconhecem até porque são feitos da mesma massa, exactamente na mesma altura…

Sai bruscamente do carro. Atrás de si bate uma porta furiosamente. Fica parado do lado dela segundos apenas, mas que a ela, lhe pareceram uma eternidade. A barreira que os separa foi destruída e ele arranca-a dali. Encosta-a ao carro. Olham-se e despem-se totalmente com o olhar. Nada os impede hoje. Estão sós. Amam-se e vão continuar a amar-se… mesmo que amanhã acordem em camas diferentes, em quartos diferentes, em cidades distintas…

Ele aperta-a contra si e ela enrosca-se nos seus braços. Um abraço apertado, sem medida nem definição possível! Uma lágrima cai pelo rosto dela e, suavemente, ele trava-a e desenha o seu fim nos seus dedos… Beijam-se, num beijo que nasce tímido e depois se transforma em intensidade, ritmo e movimento. As mãos deixaram de ter lugar certo: as dela agarram-lhe o pescoço, as dele percorrem o cabelo dela e partem para as costas…

As velas continuam acesas agora numa noite que era prevista ser passada da mesma maneira que todas as anteriores… sem ele. Naquele instante de tempo, ela entrega-lhe e partilha o seu corpo. Ele faz parte dela. Misturam-se respirações, oos peitos disparam e exigem-se partilhas... daquelas que só são possíveis quando se ama profundamente, quando se é metade, quando se assumem definitivamente cumplicidades e vontades...

E... finalmente... no meio do nada mas com o mundo todo nas mãos... amam-se...

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