segunda-feira, setembro 08, 2008

Untitled

Sempre se achou intocável, invencível, inarrável e insanável…Ninguém, por motivo algum, por mais que tentasse, conseguiria escrever a sua história de vida, ninguém conseguiria prever o seu próximo passo…a sua próxima aventura…Viva suspenso num suspense inalienável…
Percorria os dias sem fim á vista, sem poiso certo, sem palavra ou gesto que se sentisse na obrigação de dar…sem pensar em justificações ou “desculpas”, para um…ou outro…segundo perdido entre pensamentos apocalípticos.
Ouve-se agora a dizer “Desculpa, estava a pensar numa coisa parva!”, ou “ Não havia aquela marca…tive que ir procurar, atrasei-me..”. Vê-se agora na obrigação de explicar, de justificar…e até gosta ( Mas que não se diga alto).
Habituou-se ao corpo no lado esquerdo da cama, habituou-se a não haver “meios” entre eles…habituou-se que o centro da cama pode ser dividido…
O que dantes era um rotina que se esquecia rapidamente…não mais será, foi decorada, fixada em algum ponto insano que ele não conhece…nem quer conhecer ( para não apagar).
Mais que saber que ela vai estar lá, ou que ele vai até ela…quer ter a certeza de que vão estar juntos, porque querem, porque podem…e porque o desejo é demasiado forte para ser simplesmente “ultrapassado”…A cada dia que passa surge um novo objectivo para aquela relação…uma nova escala de “camarata” que aniquila o imprevisto sem o aniquilar…pois nunca se sabe como será o imprevisto na previsão que preveram…( Podem marcar o sitio, nunca a hora ou o “assunto”).
Enquanto olha em volta e pensa o texto que escreveria…vê um manto negro de fatos, lágrimas secas nas faces de quem perdeu quem ama, vê os ombros curvados de quem perdeu um amigo, joelhos flectidos e corpo caído…de quem perdeu um parceiro, um irmão…Enquanto faz saltar a bala da câmara…intacta e condenada a assim ficar…pensa no ritual…
Colocar uma bala na mão do camarada falecido, para que se possa defender e lembrar que o defenderiam…se pudessem…Tal como o poeta põe a moeda no olho do amigo, para pagar o transporte da alma…ele e todos colocam…a bala reluzente, carregada de simbolismo (a bala que estava na câmara quando ele morreu…a bala que o podia ter salvo.)…
Enquanto pensa no ritual, percebe que poderia ser ele com as lágrimas secas na face, os joelhos flectidos, os ombros caídos…o desejo de ser ele a receber as balas…Enquanto pensa no ritual percebe que não pode esperar mais…
Não pode esperar que ela saiba, que ela leia os seus pensamentos e saiba que ele vive para ela, que todas as suas balas servem para defender a ideia de que…no dia seguinte, no outro e no outro…estará com ela…Pois o seu primeiro e último fôlego, é sempre dela…porque vive para respirar…com ela.

2 comentários:

Eli disse...

:hug:

Anónimo disse...

já não era sem tempo...
;)