terça-feira, maio 08, 2007

Sentidos...

Uma vez ouvi alguém dizer que gostaria de escrever um livro sobre os sentidos. Duas pessoas que se amavam porém nenhuma delas tinha um sentido. Será possível? Creio que não. Como saberiam da presença uma da outra se não se ouviam, falavam, tocavam, sentiam, cheiravam e viam??? Hum, parece-me tarefa árdua falar do amor sem sentidos...
Cada vez que penso num homem, como homem, não o imagino sem sentidos bem como não o conheço com todos eles. Eu explico.
- Se um homem é bom ouvinte provavelmente falta-lhe o tacto das situações mais intimistas;
- se um homem é observador com toda a certeza não possuí o gosto das palavras mais doces e fortes;
- se um homem é institivo e sente o “odor” dos vários perigos que o rodeiam então muito provavelmente a sua visão estará limitada a um perimetro muito curto e de fácil alcance...
Mas se, por um dia, eu pudesse criar o homem ideal não seria perfeito porque a perfeição é uma chatice desmedida... teria defeitos, grandes e incomodativos e pequenos e insignificantes. Desenharia as suas qualidades. Mas como o meu forte nunca foi o desenho provavelmente sairia um rabisco pior do existente... No entanto, vou esforçar-me para fazer a receita sem falhar nenhum ingrediente. Sobre a mesa estão 5 taças. Cada uma delas contém um sentido e, como em qualquer cozinhado, é importante escolher a ordem dos condimentos bem como a quantidade. Fá-lo-ei à minha maneira, ao meu gosto e isso, inevitavelmente, não agradará a todos/as.

A minha primeira taça tem escrito “Visão”. Escolho este como o principal porque comparo-o ao “alho”: faz toda a diferença no tempero. Um homem sem poder de observação é como um carro sem velocidade. Aos seus olhos conferia o poder de ver tudo de todas as maneiras: do geral ao particular, do supérfluo ao importante, do grande ao pequeno, da marca ao pormenor. Ser-lhe-ía dada a capacidade de estudar as pessoas e os seus comportamentos, antecipando-lhes, invariavelmente, atitudes e até, quem sabe, pensamentos mais secretos. Como cozinheira tenho consciência que é um poder heróico este. Correria o risco de enfraquecer algumas mulheres que, muitas vezes, preferem passar despercebidas: pela manhã, com o cabelo desalinhado, a cara matinal, as calças que deveriam ficar melhor apesar de terem sido carííííssimas, a maquilhagem que borrou... Porém, esqueço estas pequenas desvantagens e continuo.
Pego na segunda taça. Escrito “Audição”. O alho ganha um sabor especial quando a ele se junta um pouco de azeite. Pois bem, a audição, neste caso, é o azeite. O alho funciona sozinho mas ganha um gosto especial quando tem por aliado o azeite de origem. Pode ser de Trás-os-Montes. Um exímio ouvinte. Que consegue ouvir até a conversa mais parva do mundo, que ouve atentamente as nossas dúvidas existenciais (como achas que devo cortar o cabelo, estou gorda?, esta ruga não estava aqui pois não?, vais gostar sempre de mim?, porque dizes que sim se não sabes?). Que saiba ouvir o nosso coração quando não nos apetece falar.
Parece-vos um cozinhado requintado demais???? Continuando...
A terceira taça não está cheia. “Tacto”. Alho, azeite e agora o vinho branco (vinagre????).Creio que ficam bem todos juntos. Este homem, munido deste ingrediente, teria umas mãos diferentes do comum dos mortais. Não apenas mãos para tocar nem braços para abraçar mas, antes, mãos para descobrir e redescobrir terreno, mãos e braços para emitir sinais de paz, tranquilidade, segurança... mãos e braços esclarecedores do que é o amor, a paixão, a química...
Restam duas taças. São especiarias. Raras. Podemos juntá-las porque os sabores são tão distintos que não se misturam. Distinguem-se. Pimenta da índia e tinta de lulas (dizem que é bom). Gosto e Olfacto respectivamente. Este teria um paladar requintado, saberia distinguir na íntegra os pormenores essenciais da vida, sentiria o cheiro do perigo antecipando-o e precavendo-se automaticamente. Conseguiria vislumbrar na penumbra de um quarto repleto de gente o perfume do meu corpo, bem como reconheceria, como a palma das suas mãos, o sabor dos meus lábios!

Para finalizar, acrescentaria uma mão cheia de sal (o colesterol não é para aqui chamado), uma malagueta do México (não vou explicar o óbvio) e tapava cuidadosamente. Reservava durante uns tempos para ganhar maturidade e...

Tolice, não é? Só escrevo disparates...

1 comentário:

ÞrincessFaßiana disse...

Aquiles tens um desafio no meu blog;)
Boa sorte :)))
Selene obrigada pela tua visita e comentario, fiquei muito satisfeita :)
Bjo para os dois
Fabi ***