terça-feira, dezembro 26, 2006

É mentira...

Era muito nova quando me apercebi que os adultos mentiam. Sem vergonha.
A mãe dizia que me dava a boneca na viagem de regresso mas o que é engraçado é que, no regresso, nunca vinhamos pelo mesmo caminho...
- “Mamã, a boneca?!”
- “Agora não vamos por lá. Fica para a próxima!”
O pai ensinava-nos que devíamos respeitar os animaizinhos, tratá-los com respeito, educá-los como se de pessoas se tratassem, no entanto, aquele cãozinho que me deram, aquele que fazia cócó demais no terraço lá de casa, foi “recambiado” para a casa de um amigo...distante
- “O meu cão?”
- “Olha, deixámos o portão aberto e o cão fugiu...”
Chorei. Berrei
- “Não te preocupes. Ele é tão bonito e esperto que já arranjou uma casa quentinha e maior do que esta para brincar à vontade!”
Acreditei, não tinha por que não o fazer. Acreditei e continuei a viver feliz na minha ingenuidade.
E aquela professora que prometeu, solenemente, não castigar quem tinha feito aquela (horrível) asneira?!?! Eu assumi-me, revelei ter sido eu. Fortemente convencida de que nada me aconteceria, claro! Acreditei nela, piamente. Errado. Ainda hoje me dói o rabo só de pensar nisso...
Cambada de mentirosos. Todos. Pior do que eles serem mentirosos é, consciente ou inconscientemente, ensinarem-nos a mentir
- “O que aconteceu ao avô?”
- “O avô foi para longe, achamos que não vem mais. Mas disse que vai estar sempre a pensar em ti...”
- “Ou comes a sopa toda ou vem aí o Papão”
- “Papão?! Não sei quem é mas pelo nome não deve ser como o Noddy. Dá cá a sopa. Marcha tudo”
O que é isto???? É uma verdade, uma meia-verdade, uma mentira ou uma meia-mentira?? Será que há “meias” nestas coisas?!? As crianças podem não entender muito bem enquanto crianças. Mas crescem. Toda a criança cresce mais cedo ou mais tarde... é só aí que vão entender que as fizeram de parvas...

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