sexta-feira, dezembro 29, 2006

Quem não tem uma música própria??
Quem não acha que aquele poeta escreveu aquele poema a pensar na sua pessoa??
Quem não recorda um cheiro específico de alguém, de algum sítio, de uma ocasião qualquer?
Quem não sonha ao ver um filme romântico, daqueles com aquelas histórias quase utópicas, e deseja que essa história se repita na sua vida??
Quem nunca visitou um local pela primeiríssima vez e se “lembrou” de já lá ter estado?
Começo pelo fim:

Vivi no estrangeiro, numa cidade, sozinha, durante um ano. Não precisei de mapas. Sabia exactamente onde estava, para onde ía, e nunca me perdi na imensidão das ruas... senti que já tinha vivido lá. Não faço ideia quando, nem quem era...

Vi atentamente o filme “Jerry Maguire” e sonhei com uma história daquelas para mim... aquela famosa frase “You had me at hello!” fez-me ver que há realmente coisas muito simples. Até no amor...

Há um cheiro que nunca esquecerei de um perfume, já antigo, que o meu avô usava. Aliás, sempre achei que ele exagerava na dose diária. Disse-lhe umas quantas vezes. Nada mudou de qualquer maneira. Há pouco tempo, sentada num banco de um combóio, lia o meu livro calmamente. À minha volta o entra e sai próprio da hora de ponta... entretanto sinto que alguém se senta no banco em frente ao meu. Não tirei os olhos do livro até o meu nariz ter presenciado aquele odor... era o mesmo perfume. As pernas tremeram. Não me contive e pousei o olhar naquela pessoa. Devorei-lhe cada partícula do cheiro que emanava dela. E vi o meu avô. Senti-o claramente...

“Conheci” Fernando Pessoa ainda nova. Cruzámo-nos de forma natural. Uma descoberta entre os milhentos livros religiosamente guardados do meu pai. Não me lembro o porquê dessa minha curiosidade repentina mas recordo-me que me “prendi” ao livro para sempre. Ainda hoje o tenho. Revi-me nos seus textos... senti-me algo nua, despida de alma porque ele a tinha descoberto. Uma empatia perfeita entre um génio da palavra e uma leitora desfasada do tempo...

Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada."

Fernando Pessoa

E chego finalmente ao início do texto. A música. Não referirei uma música minha e de mais alguém. Também as há. Vou antes dar a conhecer uma música que me dedicaram há uns tempos atrás. Marcou-me pela pessoa que a escolheu, pela ocasião de ruptura em que nos encontrávamos e pela analogia simples de uma mulher e do vento... Ninguém fala no vento. Fala-se, escreve-se, canta-se sobre o mar, sobre a lua, sobre o tempo, sobre o amor, sobre o sofrimento... esquecem-se frequentemente das brisas de todos os dias!!
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http://www.youtube.com/watch?v=pi7cmNDgCz8

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