segunda-feira, junho 18, 2007

Para ti camarada iluminada

Ela bem dizia que saía Pessoa…”Memorial do Convento…aquele pseudo romance, cínico, contra tudo e contra todos??Não…Vai sair Pessoa…” Disseste ou não disseste senhora futura polícia?
Pois bem, em homenagem aos jovens que hoje fizeram o exame Nacional de Português…e principalmente em tua homenagem…o poema que te fez gastar a tua caneta da sorte :

Acordo de noite, muito de noite, no silêncio todo.
São – tictac vísivel – quatro horas de tardar o dia.
Abro a janela directamente, no desespero da insónia.
E, de repente, humano,
O quadrado com cruz de uma janela iluminada!
Fraternidade na noite!

Fraternidade involuntária, incógnita, na noite!
Estamos ambos despertos e a humanidade é alheia.
Dorme. Nós temos luz.

Quem serás? Doente, moedeiro falso, insone simples como eu?
Não importa. A noite eterna, informe, infinita,
Só tem, neste lugar, a humanidade das nossas duas janelas,
O coração latente das nossas duas luzes,
Neste momento e lugar, ignorando-nos, somos toda a vida.

Sobre o parapeito da janela da traseira da casa,
Sentindo húmida da noite a madeira onde agarro,
Debruço-me para o infinito e, um pouco, para mim.

Nem galos gritando ainda no silêncio definitivo!
Que fazes, camarada, da janela com luz?

Sonho, falta de sono, vida?
Tom amarelo cheio da tua janela incógnita…
Tem graça: não tens luz eléctrica.
Ó candeeiros de petróleo da minha infância perdida!




Álvaro de Campos

Assim de repente ocorrem-me algumas coisas que pudessem ser ditas…mas o que tu disseste…é teu e só teu…segredo de justiça.

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