terça-feira, fevereiro 05, 2008

Aquiles!



Lembrei-me da minha namorada do tempo da faculdade…sem dúvida a relação mais longa que já tive ( terei?), até dividi casa com ela…para poupar dinheiro claro está!
Lembro-me de lhe fazer a serenata da praxe..a música que anexei a este post…lembro-me da cara dela na janela…Lembro-me de lhe ter gritado “ O que é que estás a fazer??” e ela responder “ Estudar o bonzão do Freud!”…lembro-me dos rapazes da tuna que estavam comigo…lembro-me de a conhecer enquanto ela praxava dois pobres caloiros…lembro-me de me rir que nem um doido…lembro-me de ter sido obrigado a comer uma maçã assada ( que para sempre foi a minha sobremesa naquela velha cantina de “ciências”) e o malfadado peixe espada preto ( estava demasiado atordoado para lhe dizer que odiava peixe!)…lembro-me de ela me dizer “ O teu alvo é a maçã..olha para ela antes que te caiam os olhos!”…
Já referi a forma como as minhas costas bateram no placard de notas que ela tinha no apartamento da Alameda? Não?..bateram!
Ambos sentíamos um interesse muito saudável pelo estudo intensivo de anatomia, embora eu fosse de Direito e ela de Psicologia…gostávamos de café, muito café…e era a única coisa que nunca nos esquecíamos de comprar(discutíamos as marcas)…
Lembro-me de nunca me ter habituado aos livros de psicologia misturados com a minha legislação…a saia preta sobre as calças pretas..as capas cruzadas, nunca me habituei a sentir que o meu espaço era o nosso espaço…ela também não…e nem as maratonas de anatomia podiam mudar isso.
Lembro-me de esperar por ela nas escadas da minha faculdade…lembro-me de ver milhentas moças lindas e lhes acenar em despedida..e acreditem que podia ter feito muito mais…lembro-me do sorriso dela quando eu me levantava de um pulo e lembro-me de lhe entregar as cartas escritas à pressa…num estilo ligeiramente mais lamechas do que é o meu…sim, cartas..não falávamos de “trabalho”..lia as cartas dela e ela as minhas.
A cantina da faculdade de ciências será sempre o local…Aquele fado será sempre o fado…mas foi com ela que aprendi que as maratonas de anatomia (ui) não nos fazem aceitar o facto das calças pretas e as saias pretas não ficarem bem dobradas lado a lado! Só ficam bem amarrotadas ao fundo da cama, momentaneamente.
Se aquela “traidora de franjas” não amei…e não amei! Garanto-te, mano…que não me lembro de ninguém que ame. Teoria refutada..Doutor Aquiles…PRÓXIMO!

“Que negra sina ver-me assim
Que sorte e vil degradante
Ai que saudades eu sinto em mim
Do meu viver de estudante

Nesse fugaz tempo de Amor
Que de um rapaz é o melhor
Era um audaz conquistador das raparigas
De capa ao ar cabeça ao léu
Sem me ralar vivia eu
A vadiar e tudo mais eram cantigas

Nenhuma delas me prendeu
Deixa-las eu era canja
Até ao dia que apareceu
Essa traidora de franja

Sempre a tinir sem um tostão
Batina a abrir por um rasgão
Botas a rir num bengalão e ar descarado
A malandrar com outros tais
E a dançar para os arraiais
Para namorar beber, folgar cantar o fado

Recordo agora com saudade
Os calhamaços que eu lia
Os professores da faculdade
E a mesa da anatomia

Invoco em mim recordações
Que não têm fim dessas lições
Frente ao jardim do velho campo de Santana
Aulas que eu dava se eu estudasse
Onde ainda estava nessa classe
A que eu faltava sete dias por semana

O Fado é toda a minha fé
Embala, encanta e inebria
Dá gosto à gente ouvi-lo até
Na rádio - telefonia

Quando é cantado e a rigor
Bem afinado e com fulgor
É belo o Fado, ninguém há quem lhe resista
É a canção mais popular, toda a emoção faz-nos vibrar
Eis a razão de ser Doutor e ser Fadista”

4 comentários:

Alexandra disse...

Que bonito o que escreveste! :)

Marte disse...

Obrigado Xana! =)

Volta sempre..dá notícias!

Anónimo disse...

A minha batina nunca teve um rasgão! Tilintar sem um tostão, ora bem, digamos que eu não tinha que pagar muitas bebidas, sempre existiram os sujeitos do sexo masculino, servem para pagar bebidas( Ofendi-te os sentimentos?).
Apreciei o facto de me teres procurado, passado o quê…3 anos? Eu sou assim..inesquecível!
Faltam pormenores no teu texto..agora já não trajamos, já não precisamos de olhar para as capas amarrotadas no fundo da cama!

Que tal uma maçã assada um dia destes? Tens o meu número.

Marte disse...

Eu nunca..nunca! disse que tinhas a batina rasgada!
Não me ofendeste..eu não me importo com o facto de ser usado para pagar bebidas..valeu bem a pena.

Quanto à maçã assada…O que tu queres sei eu! Desta vez..ligas tu, ok?