terça-feira, julho 03, 2007

Uma destas manhãs (estou a ficar sem títulos)


Aquiles contagiaste-me... é que acredito que esta coisa das manhãs complicadas é problema comum. As minhas não são excepção. Todos os dias acontece algo novo e, dessa forma, nunca poderei afirmar que tenho uma vida monótona. Não o é. Mesmo.
Creio que este texto seria tão mais fidedigno se resolvesse, tal como Saramago, não utilizar nem vírgulas nem pontos finais... talvez assim conseguissem entender na perfeição a rapidez e velocidade dos meus movimentos matinais... mas, provavelmente, isso não interessa nada e, além disso, nunca fui grande fã desse senhor.
Aquele dia era importante. Uma reunião que poderia decidir muita coisa. Conclusão: noite mal dormida, nervos em franja. Não tenho despertador. Quem me acorda, todas as manhãs, de Inverno ou de Verão, dia de semana ou não, faça chuva ou sol, é a minha cadela. Dorme ao meu lado na cama dela. Impreterivelmente às 6,45h, lá está ela pronta para a lambidela e para a festa. Salto da cama, literalmente, agarro numas calças de ganga, numa t-shirt e fujo dali com ela pela mão. Quando a porta da rua abre ainda eu estou a dormitar... E, como ainda estou com um pé na cama, dou folga à trela da menina... puxa-me e foge. Abro finalmente os olhos. Jogging. Sem querer. Meus senhores: a melhor forma de fazer exercício é arranjar um cão.
Atrasada, claro. Subo, dou-lhe de comer, corro para a casa de banho, duche, cremes (ele há hábitos que não se perdem nem que o mundo esteja para acabar), visto-me, dispo-me, visto-me novamente, uma coisa que alguém chama de maquilhagem (eu chamar-lhe-ía outro nome, mas, caramba, mulher que é mulher faz uns riscos), corro para a cozinha, bebo um iogurte só com uma mão (a outra está sempre a impedir que a cadela me salte e faço danos na indumentária matinal), agarro nas chaves do carro e de casa, fecho a porta e, já no elevador, rezo para que ninguém se tenha lembrado de encostar, amistosamente, o seu carro a outro.
Caminho para o carro com a velocidade que me caracteriza. Não que ande sempre com o tempo contado mas antes porque foram muitos anos a acompanhar o passo da minha mãe. Sinto que, de um momento para o outro, um dos meus calcanhares deixou de sentir o chão. Pensei no pior e o pior aconteceu. Olho para trás e lá estava ele. O tacão preso entre duas pedras da calçada. Agarro-o, não sai. Puxo com mais força, nada. Praguejo e já vermelha de raiva, agarro-o com as duas mãos. Venceu-me. Com um andar renovado, subo, troco de calçado, desço, abro a porta do carro e, mais uma vez, desejo fervorosamente que a ponte que me separa de Lisboa não esteja entupida.
Que mais poderia acontecer, pensarão vocês?? Pois é, comigo tudo é possível, principalmente quando corro contra o tempo.
Portagem. Fila. Impaciente bato com os dedos no volante e nem o Pedro Ribeiro me anima. Resmungo contra a minha preguiça, já devia ter tratado da Via Verde. Nem ouço a música que, por esta altura, já está baixa para não me irritar mais. A minha vez. Entrego o cartão ao senhor e, naquele milésimo de segundo em que os nossos dedos se tocam, o maldito cartão cai. Carro à frente, a porta não abria tal era a proximidade entre nós e a cabine. “Menina, acabou de pisar o cartão. Mais à frente um pouquinho!” E assim é. O carro mais distante e saio, apanho o cartão, que entretanto tinha mudado de cor e, estupidamente, entrego-o. Não funciona, claro. Outro cartão. Faço estes movimentos todos com rapidez e sem nunca olhar para quem se encontra atrás de mim, na fila. Não quero ser fulminada logo pela manhã até porque não posso faltar a esta reunião.
Pago e arranco a grande velocidade. Confesso que não gosto de andar devagar mas, nesse dia, voei...
Finalmente, depois destes precalços todos, cheguei. Estava atrasada 30 minutos. E enquanto me sentava, desculpando-me pelo atraso, e esperava pelos restantes atrasados, pensei que realmente há dias em que devia ser proibido sair de casa...
A reunião correu bem. E, mais tarde, quando cheguei a casa, o tacão partido ainda lá estava à minha espera. Baixei-me e sem esforço algum retirei-o. Com calma tudo se consegue, disso tenho a certeza, mas clareza de espírito é coisa que me falta nas primeiras horas do dia.

2 comentários:

Selene disse...

Para além dos meus títulos andarem a escassear ainda por cima dou um erro de acentuação.
Umas destas manhãs, claro.
Peço desculpa mas é o que dá colocar textos logo cedo ...:))

Beijocas

Anónimo disse...

Faz como eu…arranja uma sereia ( ou seja uma sirene)…É uma festa. Sempre me disseram que é para usar em caso de emergência…chegar atrasado a uma reunião é uma emergência…infelizmente, por muito que me atrase, aquilo nunca começa sem mim…ser do comando tem as suas chatices.
Não ligues aos erros que eu também não…mas se te sentires melhor, podes sempre reeditar o texto.
Eu tenho um ódio de morte ao senhor Saramago…assim como muitos dos meus conhecidos amigos.
Boa continuação de dia.