terça-feira, setembro 25, 2007

Depois daquele dia nunca mais se cruzaram. Sentiam-se no mesmo País, sabiam-se em cidades diferentes, pressentiam-se quando algo corria menos bem, ouviam-se quando chegava a hora do silêncio… tinham a certeza da existência um do outro. Algo permanente, forte e presente. No entanto, em nenhuma altura, se encontraram… nem no canto deles nem em outro local qualquer. Tudo foi estranhamente natural: não se apresentaram nem se despediram. No íntimo talvez soubessem que uma despedida seria impossível e sem sentido!

Aquele seria um dia como tantos outros. Levantar cedo, correr contra o tempo e entrar no local de trabalho com o sorriso e a disposição que lhe eram sua característica. Muitos já a tinham abordado algumas vezes gabando-lhe a felicidade quotidiana, o trabalhar com a calma necessária… outras tantas vezes ela agradeceu a simpatia mas interiorizou tristezas que, em nada, se identificavam com aquele estado de espírito. Sentada na cafetaria reparava nos outros que a rodeavam, observava comportamentos e partilhava conversas triviais. Queixas, sobretudo queixas era o tema principal. Ninguém estava satisfeito com o que tinha, aliás, nem ela própria estava. Nunca o confessou. Teve, porém, a certeza que muitas daquelas pessoas nunca tinham vivido o que ela viveu em apenas semanas. Sabia-o. Imaginou que muitos deles não soubessem o que é sentir-se dentro de alguém. Como sendo parte de um todo. Como complemento. Como prolongamento de algo que só existe quando há soma de dois. De um “eu sou tu”… Tristes por desconhecerem o que ela conheceu com todos os sentidos, com o corpo e com a alma… Será esta a razão da sua “felicidade”: não vive o amor no presente mas respira-o porque ficou-lhe tatuado no corpo.

Depois do dia de trabalho arrastou-se até ao centro comercial perto de casa. A lista ficára esquecida em casa, como sempre, e durante a viagem de carro apontava-a mentalmente. Nada poderia ser esquecido porque, a cada dia que passava, detestava mais a “ida às compras”! Estacionou o carro. Fez a chamada habitual aos pais e entrou.

Muita gente. Muito barulho, alguma confusão… não sabia porque razão aquilo acontecia mas, de quando em vez, procurava-o na multidão. Procura sempre esperada vã, mas mesmo assim fazia-o… Alguém tinha o andar semelhante… outro o cabelo… outro ainda os olhos… mas nunca ele!! Engendrava mil e umas razões para ele, por casualidade, aparecer por ali… uma saída planeada ou não, trabalho, saudades dela, um passeio, qualquer coisa mais ou menos plausível que obrigatoriamente exigisse a presença dele ali. Chegava sempre à mesma conclusão: nada, nada o faz estar ali. Uma conclusão tardia. Feita praticamente à porta de casa.

Porventura poderia ser considerada louca e alienada do mundo terrestre mas há muito que ela tinha desistido da ideia de se preocupar com o que os outros pensam: sobre ela ou sobre a vida.

Talvez por isso, naquele dia que, em tudo, seria igual a todos os outros, não tenha percebido porque lhe apetecia tanto cheirar o ser que ele era… Era algo quase incontrolável. Como um qualquer vício. Precisava de o sentir mais perto e essa seria a forma mais real e possível. Rapidamente elegeu uma qualquer loja de perfumes para pôr em prática o seu plano.

Entrou com a confiança própria de alguém que vai comprar um presente perfumado e que sabe exactamente aquilo que quer. Dirigiu-se paulatinamente à secção de Homem. Pousou os olhos em várias embalagens e apeteceu-lhe, quase instintivamente, sentir algumas fragâncias. Não o fez. Como apreciadora amadora de odores embalados sabe que o sentido seria perturbado por outros cheiros e não aproveitaria na íntegra o eleito.

Viu-o finalmente. Sabia o nome de cor. O interior do frasco também estava gravado em si mas hoje, naquele dia normalíssimo, queria senti-lo mais forte, mais presente, mais intenso.
Pegou no frasco e, contrariando o papel rectangular que pedem para utilizar, levou o frasco ao nariz. Fechou os olhos e por segundos… milésimos de segundos talvez… sentiu os lábios dele, as mãos pelo seu corpo, o abraço forte… de olhos fechados conseguiu vê-lo a rir de tudo o que ela dizia, desenhou-o sentado à mesa, deitado na cama… ouviu-o a ordenar que se calasse e o beijasse, ouviu as juras de amor sem um único “talvez”, sem uma única promessa… sorriu ela também…

Alguém lhe toca no ombro… suavemente…















2 comentários:

Anónimo disse...

Vou ficar mimando...vou vou. Ultimamente fazem-me as vontadinhas todas!

Obrigado pelo texto maravilhoso Selene...estou a acompanhar a saga...e sou um bocado impaciente, por isso, não me faças esperar muito tempo...tipo, até amanhã?

=)*

Anónimo disse...

Selene tambem estou ansiosa para ver o seguimento:))
Não nos massacres lol
Obrigada pela recepção :)
beijo Pandora *